Questão:
Alguém sabe alguma poesia sobre Guerras?
anonymous
2008-07-11 09:12:11 UTC
Oi, preciso de algumas poesias sobre guerras, podem ser de qualquer visão sobre a guerra, de quem está dentro, quem observa, como começa, como deve acabar... não importa o tema é guerras. Por favor ajudem...
Sete respostas:
Maria Clara
2008-07-11 09:27:15 UTC
Guerra

Cecília Meireles



Tanto é o sangue

que os rios desistem de seu ritmo,

e o oceano delira

e rejeita as espumas vermelhas.

Tanto é o sangue

que até a lua se levanta horrível,

e erra nos lugares serenos,

sonâmbula de auréolas rubras,

com o fogo do inferno em suas madeixas.

Tanta é a morte

que nem os rostos se conhecem, lado a lado,

e os pedaços de corpo estão por ali como tábuas sem uso.

Oh, os dedos com alianças perdidos na lama...

Os olhos que já não pestanejam com a poeira...

As bocas de recados perdidos...

O coração dado aos vermes, dentro dos densos uniformes...

Tanta é a morte

que só as almas formariam colunas,

as almas desprendidas... - e alcançariam as estrelas.

E as máquinas de entranhas abertas,

e os cadáveres ainda armados,

e a terra com suas flores ardendo,

e os rios espavoridos como tigres, com suas máculas,

e este mar desvairado de incêndios e náufragos,

e a lua alucinada de seu testemunho,

e nós e vós, imunes,

chorando, apenas, sobre fotografias,

- tudo é um natural armar e desarmar de andaimes

entre tempos vagarosos,

sonhando arquiteturas



**************************************************



A Guerra

Alberto Caeiro



A guerra que aflige comos seus esquadrões o Mundo,

É o tipo perfeito do erro da filosofia.

A guerra, como todo humano, quer alterar.

Mas a guerra, mais do que tudo, quer alterar e alterar muito

E alterar depressa.

Mas a guerra inflige a morte.

E a morte é o desprezo do Universo por nós.

Tendo por conseqüência a morte, a guerra prova que é falsa.

Sendo falsa, prova que é falso todo o querer alterar.

Deixemos o universo exterior e os outros homens onde a Natureza

os pôs.

Tudo é orgulho e inconsciência.

Tudo é querer mexer-se, fazer cousas, deixar rasto.

Para o coração e o comandante dos esquadrões

Regressa aos bocados o universo exterior.

A química direta da Natureza

Não deixa lugar vago para o pensamento.

A humanidade é uma revolta de escravos.

A humanidade é um governo usurpado pelo povo.

Existe porque usurpou, mas erra porque usurpar é não ter direito.

Deixai existir o mundo exterior e a humanidade natural!

Paz a todas as cousas pré-humanas, mesmo no homem!

Paz à essência inteiramente exterior do Universo!
Educar para o Futuro
2008-07-11 10:34:24 UTC
Glória Moribunda



(Une fille de joie attendait sur la borne.)

THÉOPH. GAUTIER





IX



Tudo morre, meu Deus! No mundo exausto

Bastardas gerações vagam descridas.

E a arte se vendeu, essa arte santa

Que orava de joelhos e vertia

O seu raio de luz e amor no povo,

E o gênio soluçando e moribundo

Olvidou-se da vida e do futuro

E blasfema lutando na agonia.

Agonia de morte! Só em torno

No leito do morrer as almas gemem.

E o fantasma da morte gela tudo.

Por que um ardente amor não mais suspira

Notas do coração pelo silêncio

Da noite enamorada? A chama pura

Por que das almas se apagou nas cinzas

E a lira do poeta. se murmura

As ilusões de um mundo visionário,

Por que estala tão cedo? Vagabundo

Adormeci das árvores na sombra

E nos campos em flor errei sonhando,

Coroando-me dos lírios da alvorada.

Arvore prateada da esperança.

Sombra das ilusões, ó vida bela

E sempre bela, e no morrer ainda,

Por que pousei a fronte sobre a relva

A sombra vossa, delirante um dia?



Oh! que morro também! na noite d'alma

Sinto-o no peito que um ardor consome,

No meu gênio que apaga nas orgias,

Que foge o mundo, e o sepulcro teme . .

Exilei-me dos homens blasfemando,

Concentrei-me no fundo desespero,

E exausto de esperança e zombarias

Como um corpo no túmulo lancei-me,

Suicida da fé, no vício impuro.





Manuel Antônio Álvares de Azevedo
?
2008-07-11 09:26:44 UTC
A rosa de Hiroxima





Pensem nas crianças

Mudas telepáticas

Pensem nas meninas

Cegas inexatas

Pensem nas mulheres

Rotas alteradas

Pensem nas feridas

Como rosas cálidas

Mas oh não se esqueçam

Da rosa da rosa

Da rosa de Hiroxima

A rosa hereditária

A rosa radioativa

Estúpida e inválida

A rosa com cirrose

A anti-rosa atômica

Sem cor sem perfume

Sem rosa sem nada.





Vinícius de Moraes
Miguel P
2008-07-12 13:04:23 UTC
GUERRA



Ganância, intolerância e sede de poder,

Prepotência, soberba, ódio e presunção,

Eis os componentes, fundamentais, a ter,

Para se iniciar um conflito ou revolução;



Em qualquer lugar desta encantadora Terra,

Por algum absurdo, avareza ou crueldade,

Pode surgir o gérmen que produz a guerra

E encaminha á desolação da humanidade;



A natureza não produz algo comparável

Á barbaridade e estupidez de uma guerra,

Quantas vezes bastaria um gesto amigável,



Uma palavra, numa reunião de concórdia,

Um cumprimento, um amplexo amável

Ou um, elementar, gesto de misericórdia!...
draulep
2008-07-11 14:55:47 UTC
"Concord Hymn"



By the rude bridge that arched the flood,

Their flag to April’s breeze unfurled,

Here once the embattled farmers stood,

And fired the shot heard round the world.



The foe long since in silence slept;

Alike the conqueror silent sleeps;

And Time the ruined bridge has swept

Down the dark stream that seaward creeps.



On this green bank, by this soft stream,

We set to-day a votive stone;

That memory may their deeds redeem,

When, like our sires, our sons are gone.



Spirit, that made those heroes dare

To die, and leave their children free,

Bid Time and Nature gently spare

The shaft we raise to them and thee.



(de R.W. Emerson, uma "glorificação" da guerra; uma homenagem àqueles que participaram da primeira batalha da Revolução Americana)
@TIOBERTÃO@
2008-07-11 13:47:55 UTC
Ola,vou tentar fazer na hora.....Querra para que?;;;Estamos sempre em querra......É querra interior.....É querra exterior....Se querreia neste mundo para tudo.....Se guerreia pelos filhos.....pelos maridos....pelas esposas....pelo amigo....por si proprio....Uma verdadeira Guerra nas Estrelas....Quem é o vencedor....quem é o vencido......GUERRA......Que nome DANADO....soa como TERRA....Uma terra em conflito.....Uma terra em confusão....QUERRA NA TERRA....Sempre GUERRA....eis a questão.....quem vence no final....Só há derrotados....Só há vencidos.....Pode existir uma POESIA sobre QUERRA.....NÃO.....POESIA É AMOR.....GUERRA É SEMPRE GUERRA.......Tio Bertão......O INSPIRADÃO.
conansoin
2008-07-11 12:24:27 UTC
Saúde e... Paz!

Eis uma poesia de minha autoria inédita:

GUERRA E MASSACRE



Oh! Cegos insensatos,

Emigrantes da agonia,

Em rotas almas escusas.

Mercadores de ignomia

Na feira dos ingratos

Em dejetos de recusas!



Oh! Corações pulsantes!

No ápice da direção

Do avanço organizado...

Temei a voz da razão

Dos humildes passantes

Estuprados no passado!



Procissão de farrapos

Em viagem sem retorno,

Oriundos do inferno vil

Dos confins do suborno,

Aflorando em meros trapos

De um mundo já senil!



Rebolar dos ditadores

No bailar das caveiras,

Sepultando os valores

No fundo de trincheiras,

Num festim de horrores

Em ágape de dissabores.



Indiferentes à penúria

Do esfomear dos vencidos,

Na metrópole das barracas

De sonhos mal dormidos...

Seguem desfilando injúria

Por quaisquer quimeras!



O gaguejar da metralha

No rastejar dos evadidos,

Suarentos, pegajosos,

Moucos pêlos estampidos:

Carne própria pra mortalha

Em sepulcros pedregosos!



Desfilar dos dementes

No sibilar dos petardos

De balas sem direção,

No parto de teleguiados

Em massacre de inocentes

Sem nenhuma contemplação.



Mar tempestuoso,

Ares agourentos,

Odores do medo.

Corpos suarentos,

Inferno em gozo...

Almas em degredo!



Bombas esvoaçantes

Sobre a tumba fria.

Choro de parentes

Ao final da orgia

Dos vôos rasantes

De aviões potentes.



Pocilgas com alimentos:

Pensionato de escombros!

Merenda dos perdedores,

Com vergares de ombros,

E vagar de pensamentos

Na fuga dos predadores!



Máquinas dirigíveis,

Povo escorraçado,

Orar do desespero!

Deus? ... Decepcionado!

Comandos insensíveis

A quaisquer apelos.



Fluência do projétil,

Dormência da razão.

Ganância do dividendo,

Acordos em extinção:

Crucifixo de fuzis!

Satanás... Florescendo!



(S/A/Baracho)


Este conteúdo foi postado originalmente no Y! Answers, um site de perguntas e respostas que foi encerrado em 2021.
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