Floyd and Them
2012-12-10 10:04:53 UTC
Sinuosa é saber se será solo sabido
De como o mar faz o som adiante.
Adiante o mar faz curvas e curvas sinuosas,
E a natureza acompanha-o solitária.
As rachaduras do solo não são mais profundas
Que as rachaduras da tua pele, nas tuas mãos,
E não são mais profundos
Do que o horizonte quente e seco e do abismo
Que ele oferece aos teus filhos.
Sideral é o espaço sobre o sertão.
O gado olha para o céu, do sertão.
As pessoas olham para o céu, do sertão.
O céu que é mais escuro que o mar,
E que tem mais estrelas do que o coração nordestino.
Uma rede balança naquele marasmo...
Silêncio! O desespero é comum e é letal.
Pouco a pouco todos morrem.
Deus chora e molha tudo, toda a terra, todo o fruto,
Mas as rachaduras ficam, nos esqueletos da gente,
No gado da gente, na vida da gente...~
II –
Nordeste das raparigas grávidas e escassas,
Terra seca e desgraçada,
Que sem alimento, se torna um espaço mortífero,
Mortal, condenado,
Dentro da imensidão da mata brasileira,
A mata com doença e com virtudes de fazer o nada.
Deus abençoa, deus, abençoar...
E nada é mais do que um fruto na carroça,
E um cavalo na carroça,
E uma escrava na carroça que nem preta é,
Que nem comprida é, que nem estudada é...
A carroça atola sempre que vê a estupidez do mar.
E sempre que há a poesia...
Poesia poética protuberante do púbis,
E a sujeira que se acumula no homem.
Homem é gado, e gado é homem;
Um vivi no pasto, outro vivi na casa: mas são um só.
O homem e o gado olham para o céu e se abraçam.
Os dois morrem juntos se tudo acabar,
E se um deles acabar,
Acaba o tudo.
Passarinho voa, voa,
Voa, voa e sem luar,
Como posso ter sua vida
Como posso eu voar.
Minha vida é o sertão, e uma cria é o que eu tenho,
E faço o parto ao relento, como todos já fizeram.
A linguagem é simples,
E eu tenho sonhos para a cidade...
A cidade que é sideral e é o universo atento ao mundo.
Vem o trem de uma infância, vem por entre estrelas e perigos,
E entre toda uma viagem, se vê que com palavras
Nada o descreve.
É mata daqui.
Daqui há
A mata que desce.
Desce a mata por entre as veias.
Mas o nordeste não conhece a mata.
Povo destruído pelos olhos do governador da Pátria Apocalíptica,
Esta
Pátria
Que não existe, e se existisse
O que seria a não ser mais um governo inútil que atrapalha a vida do pobre? És pobre pela mediocridade de ser.
Estrelas e estrelas, e tudo é diferente. Quero um repente. Quero uma rima.
Quero as linhas sinuosas do nordeste.
Quero a comida de Elvira, quero a música de José,
Quero o trabalho de Ednaldo,
E tantos outros nomes do nordeste que mencionados são na cidade.
A cidade cospe fogo e lava. O nordeste cospe isolamento e depressão.
Nordestinos são felizes e eu nunca fui ao nordeste... Ao caipira estendo minha mão,
E toco piano,
E falo da cidade,
E a cidade fala dele,
E promete coisas,
E o nordestino cai,
E o canto da terra do nordeste que nada mais é o Brasil,
Pois o Brasil é menos Brasil que o próprio nordeste,
Enche o coração de esperança.
Esperança que enche os olhos de lágrimas. Lágrimas
Que não suportam a dor e não servem para encharcar o solo. Mas é temporário.
O nordeste homenageia o Brasil com suas mãos lamacentas.
De que importa? Nada.
Absolutamente nada. Incrivelmente: nada.
Nada significa o trabalho do nordeste, pois na cidade também há trabalho.
A humanidade trabalha e muito.
Não faz diferença nenhuma e nem devia.
O pão que tanto queremos está na mesa.
Mesa? Nordeste tem mesa...
Uma mesa inútil de quitandas secas e pobres e miseráveis.
Brasil miserável é locomotiva absorta na promiscuidade.
E tudo é um devaneio sem igual de crianças prostitutas – daquelas de sempre falo,
E não menciono o nome já que o nome é tão vago... Ednaldo é criança e não é prostituto.
Não falo da mulher que cospe nem do homem que cospe e muito menos do cuspe.
Bagunça de poesia é pouco...
Sofrida a alma do nordeste e poderosa.
Cobrindo o cérebro dos ricos inocentes
E comendo o cérebro
E derretendo o cérebro
E defecando no cérebro
Com sua linguagem e informação pobre e descuidada.
O mundo ainda verá o nordeste e chorará.
Chorará tanto que as rachaduras se fecharão na terra,
E pelo menos aliviaram as rachaduras do gado, do esqueleto,
Da vida.